Beirando os 40 anos, Marcel Proust um belo dia mergulhou uma madeleine (um bolinho) em uma xícara de chá. Esse gesto banal desencadeou-lhe uma série de recordações de sua infância. A partir disso, ele passou a escrever impressões sobre o seu passado e, no processo, acabou relatando os costumes e um pouco da História da França da virada do século XIX e início do século XX. Todo o seu homérico esforço culminou com a publicação dos sete volumes de “Em Busca do Tempo Perdido”. Foi uma verdadeira vitória da memória sobre o implacável tempo.
Na verdade, Proust, um homem doente desde pequeno (asmático), sabia que não tinha mais tempo a perder. Em 1905, trancafiou-se em casa e passou a escrever compulsivamente, até a sua morte, em 1922.
A partir desse exemplo, é interessante notar como a busca, a procura pelo tempo perdido de nossa juventude, do passado, é uma constante em todos nós. Essa sensação nostálgica geralmente nos arrebata após pequenos gestos, como o de Proust, ou depois de sentirmos um aroma ou um sabor há muito esquecido em algum canto da memória. A partir dessas rememorações, vamos recriando o nosso passado, compreendendo melhor o que nos tornamos e, muitas vezes, tentando reviver o que não volta mais. Lamentamos as boas chances perdidas, as oportunidades descartadas, o tempo dispensado em ações que hoje nos parecem tolas demais; todas essas coisas, pensamos, seriam despropósitos e desmazelos da juventude, quando o tempo nos parecia um bem infindável. Realmente, parece que sempre buscamos o que não mais podemos alcançar.
Mas talvez o processo de busca do tempo perdido possa se tornar assertivo se dele tirarmos lições para nosso proveito futuro. “Aprender com os erros do passado é a chave para não repeti-los”, dizem os professores de História, o clichê e o senso comum. Parece-me verdade.
Pensando bem, creio que uma boa saída seria não deixar a nostalgia se transformar em melancolia. Devemos, talvez, transmutá-la em ânsia de aproveitar ao máximo o tempo que nos resta. Proust, por exemplo, precisou de 13 anos e mais de 3.000 páginas para resgatar seu passado, alcançar o seu tempo e, no processo, reunificar o seu eu. Não deve ser por acaso que ele faleceu pouco depois de escrever “Fin”.
Talvez, deste modo, evitando a melancolia e tirando proveito do passado para o nosso futuro, não ficaremos desperdiçando tempo somente recordando o que já passou, vivendo à procura de um tempo perdido que já não volta mais.
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