06/09/2005

Naco de mágoa

Sentei à mesa para comer. E foi aí que vi um naco de mágoa em meu prato de macarrão. No começo pensei que fosse tomate, pois era algo avermelhado, mas depois concluí que era um pedaço de mágoa mesmo. Abri um Concha y Toro e me servi uma taça. Buquê de angina. Tomei um gole. O retrogosto era de decepção com notas de amargura. Voltei ao macarrão, e o naco de mágoa lá continuava. Resolvi dar a primeira garfada. Mastiguei, mastiguei, mas o macarrão parecia inchar em minha boca. Tentei engolir, mas estava difícil, embolado. A mágoa comprimia meu esôfago impedindo a deglutição.
Piorei tudo ao tentar forçar a descida com o vinho. A mágoa, a decepção e a amargura estimularam meu nervo frênico, ocasionando movimentos convulsivos de meu diafragma e então comecei a soluçar. Concomitantemente, os vapores que saíam da triste mistura em minha boca alcançaram meus olhos e lágrimas começaram a rolar. Quando mais eu mastigava e tentava engolir o bolo alimentar semidigerido mais desesperadamente soluçava e lacrimejava. Empurrei o prato de macarrão magoado, tampei o vinho amargurado e fui me deitar entristecido. Dormir para esquecer aquela refeição.
Amanhã é outro dia, farei dobradinha.

Um comentário:

Anônimo disse...

AINDA BEM QUE SUA MÁGOA E COM PRÁTO CHEIO! AGORA IMAGINES MÁGOA SÓ COM PURA SALIVA(INTRÍNSECA)?ACABA GERANDO RAJADA DE...FLATOS??