10/12/2005

Mangueira


Quando vejo uma mangueira com grandes galhos retorcidos, quase tocando o chão, gosto de imaginar que foi obra de meninos trepando nela para brincar ou chupar seus frutos. De tanto fazerem isso, os galhos foram se conformando.
Eu sei que no mundo de hoje o mais provável é que alguma Cia. de energia tenha feito aqueles cortes utilitários, nada naturais, na pobre mangueira. Ou que tenha sido resultado de alguma má formação da árvore.
Contudo, eu prefiro pensar que o tronco quase horizontal tenha sido resultado de uma brincadeira passada de pai para filho e para o filho deste. Uma tradição de família, uma ação entre amigos que atravessou décadas até a mangueira ficar daquela forma. Gosto de imaginar o menino, agora homem, relembrando ao pé da árvore seu falecido pai ensinado-o a escalá-la “como meu pai me ensinou, filho”; o menino perna-de-pau no futebol, mas que na árvore se sentia o rei do mundo; o garoto olhando o pôr-do-sol da forquilha mais alta e descobrindo alguma verdade sobre si.

Pois eu também fui um menino que trepava em mangueiras e muitas vezes gostaria de voltar a ser. Poder sair da Terra e alcançar o céu, as estrelas, ser o comandante supremo de meu mundinho.
Pois pior do que viver trepado em árvores é morrer aos poucos preso ao chão.

4 comentários:

André Damázio disse...

Oi, Fábio. Tua "mangueira", inspirou-me um outro pé de árvore lá no meu blog. Abs

Fábio disse...

Legal, André.
Fico contente.
Gostei bastante.
Abraço.

Torquato da Luz disse...

O comentário foi apagado por lapso. Repito: gostei muito deste texto. Um abraço, Fábio!

Fábio disse...

Obrigado, Torquato!
Um abraço.