23/02/2006

Florbela Espanca

PEOR VELHICE

Sou velha e triste. Nunca o alvorecer
Dum riso são andou na minha bôca!
Gritando que me acudam, em voz rouca,
Eu, naufraga da Vida, ando a morrer!

A Vida que ao nascer enfeita e touca
D'alvas rosas, a fronte da mulher,
Na minha fronte mística de louca
Martírios só poisou a emurchecer!

E dizem que sou nova... A mocidade
Estará só, então, na nossa idade,
Ou está em nós e em nosso peito mora?!...

Tenho a peor velhice, a que é mais triste,
Aquela onde nem sequer existe
Lembrança de ter sido nova... outróra...

3 comentários:

Anônimo disse...

Aos primeiros versos, a autoria já salta aos olhos! Incrível isso!
É mesmo um belíssimo soneto de Florbela Espanca, sempre melancólica e triste, uma tristeza encantadoramente bela. Parabéns pela lembrança, amigo!

Fábio disse...

Estou lendo "O Livro das Mágoas" ("Maguas"). Sempre adorei a Florbela, mas nunca tinha lido um livro dela, apenas poemas soltos.

Anônimo disse...

O que mais admiro nela foi sua capacidade de impor a uma forma tão limitadora como o soneto (apesar de belíssima) toda a sua subjetividade, a dor de sua vida, o sofrimento sincero e nada fingido que foi sua existência.

Boa leitura, amigo!