Alguém sinceramente, sem dar um risinho interno, considera poesia concreta ou pós-(neo-ultra-mega)moderna como sendo poesia?
Eu li um texto muito interessante sobre isso no locutório .
Daí eu resolvi fazer um experimento (tá, vão dizer que o empirismo não tá com nada, é coisa super-mais-século-XVIII, mas dane-se). Botei "Alma minha gentil" (Camões) junto a "O quê" (Arnaldo Antunes) e observei. Nenhuma derreteu tampouco apodreceu, mas depois de duas lidas, eu já não conseguia mais ver "o-que-não-é-o-que-não-pode-ser-que..." sem ganas de esmurrar alguém. Já o Camões eu não me cansei de ler e de pensar em múltiplos significados; eu era constantemente levado a divagar sobre algo que tangia as palavras, depois sobre outra coisa, etc. Até acabei abrindo um livro de Keats que havia muito não lia. Já o Antunes me fez querer ouvir rock anos 80.
Que valor tem isso? Cientificamente nenhum, mas eu redescobri Keats e isso já me bastou.
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3 comentários:
Bingo, amigo, conseguiste exemplificar tudo aquilo que penso sobre poesia em um experimento prático e simples. Também eu tenho cá internalizados uns tantos poemas de Pessoa, Florbela Espanca, Cecília Meirelles, Mário Quintana...e tantos outros que permaneceram em mim porque conseguiram tocar lá no fundo alguma corda íntima de sensibilidade, ou lançaram atrás da minha orelha um montão de pulgas metafísicas, em um mar de significados. Dos "poemas concretos"? Bem, tenho a imagem de um poema que compunha a palavra "luxo" com várias repetições da palavra "lixo", e um outro "Beba Coca-cola" no qual o autor jogava com palavras parecidas como "coca", "caco" e "coacla" só para dizer que ele era avesso ao sistema capitalista e consumista...
Eu continuo não concebendo poesia que não seja afetiva - no sentido de causar em nós uma reação emocional qualquer além do "hmpf" de desprezo ou do "ahn" de surpresinha boba...
Caro Fábio:
A poesia não é um código secreto
acessível apenas a alguns
nem uma sucessão de palavras
indecifrável até pelo autor.
A poesia é uma tentativa
de entender a vida.
Um abraço.
Com certeza, Torquato.
É por aí mesmo.
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