30/03/2005

Inutilidades

O monge contempla a plenitude da solidão de dentro de sua cela. Ali, cama, criado-mudo, lamparina a óleo, e um pequeno armário com roupas e livros (vários livros) o ajudam a despir-se da vaidade. Chão de concreto bruto para esfriar qualquer pensamento mais ardente. Da pequenina janela, ele observa as gaivotas mergulhando no azul-morte do mar. Toma especial interesse pelo fato de elas não voltarem com peixes no bico. Terão engolido tão rápido? Apesar de já precisar de óculos para ler seu mundinho, a vida ao longe ainda lhe é nítida. Realmente não parecem tirar nada da água. Teria o mar se tornado estéril como seu coração?
Por que as gaivotas insistem em mergulhar?

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