Acabei de ler "O Jardim de Cimento", o primeiro livro que leio de Ian McEwan, e devo dizer que foi uma ótima surpresa: não sei por que cargas d'água eu não ia com a "cara" dele. Ah, pequenas birras, quanta besteira não fazemos por elas?
Este é um livro sensacional em que somos convidados a observar, feito voyeurs, as teratologias domésticas de uma nada típica (eu espero) família inglesa. As cenas mais aviltantes são as em "flashback", como que se para contá-las o narrador precisasse de um certo distanciamento. É assim até o capítulo final, no qual o passado parece alcançar o presente culminando na ação incestuosa (afinal, seria mesmo uma relação?). Esta ação destruidora e destrutiva deriva da necessidade de as personagens darem um basta àquele mundo idílico e maligno em que se meteram. A incapacidade dos protagonistas de levarem aquela situação toda adiante os faz sabotarem o esquema de ocultação (de cadáver, de status, de sentimentos) que eles mesmos criaram, ainda que quase sem querer. As descrições das maldades que os familiares perpetram entre si devem deliciar qualquer analista: são atitudes doentias, limítrofes, cheias de camadas de subentendidos.
Esse é um daqueles livros que nos prende pelo nosso lado sádico e voyeur. Dá até uma certa vergonha de ficar virando as páginas, mas não nos resta outra escolha: gostamos de uma boa baixaria, ainda mais quando muito bem contada e escrita.
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