Resumo:
Aparentemente, quando o gás acaba em uma casa alugada no litoral, no dia 31 de dezembro, às 20h, no meio da preparação da ceia, é contraproducente tentar argumentar com mulheres que os comensais podem se refestelar com salgadinhos. Mulheres tendem a ser estupidamente tacanhas quando se trata de ceia de Ano Novo.
Aparentemente, é reservado aos homens a honrosa tarefa de arrumar um botijão cheio de gás, não obstante o fato de estarmos na praia, em pleno sábado, dia 31 de dezembro, oito da noite. Algo me diz que isso tem a ver com tempos cavernosos, neandertalescos, em que o homem tinha de ir à caça do alimento, mas não tenho certeza. Certeza mesmo só a de que tínhamos de conseguir um botijão de gás, sob pena de haver uma rebelião feminina. Então, lá fomos eu e o Paulo, o outro homem que estava na casa, à caça do gás.
Aparentemente, o melhor modo de se arrumar um botijão de gás na praia no dia 31 de dezembro às 20h é seqüestrando o filho do dono da distribuidora. Como ele não estava por ali, apelamos, eu e o outro marido também escorraçado de casa sob ameaças, para o seqüestro relâmpago de um caminhão de gás que voltava para a distribuidora. Nós literalmente fechamos o caminhão em plena avenida principal da Riviera São Lourenço e saltamos do carro em direção ao bólido de 5 toneladas.
Aparentemente, motoristas de caminhão tendem a se assustar com a manobra acima descrita e sacar um revólver.
Aparentemente, eu reajo muito mal a armas sacadas de supetão e apontadas para minha cabeça.
Aparentemente, Paulo, o amigo que me acompanhava, possui excelente reação a armas apontadas para sua cabeça. Ele conseguiu explicar-se para o motorista. Eu não entendi bem a explicação, pois estava em posição fetal, no chão, urinado e clamando por mamãe que, diga-se, não me socorreu.
Aparentemente, após uma confusão como a acima descrita, é imprescindível subornar o motorista do caminhão de gás para se obter um botijão no litoral, no dia 31 de dezembro, às 20h40. Então, apesar de estarmos na "Riviera", os costumes seguem bem à brasileira.
Aparentemente, o medo de chegar em casa sem o gás para as mulheres terminarem a literalmente famigerada ceia é inversamente proporcional ao bom senso: pagamos o triplo pelo botijão.
Aparentemente, não é uma boa idéia se jogar ao chão já pronto para o Réveillon, ou seja, com roupas brancas. Quando você tiver de ir atrás de um botijão de gás no litoral no dia 31 de dezembro às 20h, é deveras interessante botar vestes mais condizentes com seqüestros, fechadas de veículos, armas sacadas e afins.
Aparentemente, mulheres não dão bola para o fato de que você quase morreu atrás da porcaria do botijão. Elas só querem cozinhar a maldita ceia. Já quanto a seu estado imundo, é impossível tentar obter uma reação razoável de uma mulher apesar das circunstâncias em que a imundície ocorreu.
Aparentemente, a demora masculina em encontrar um botijão de gás no litoral às 20h do dia 31 de dezembro é diretamente proporcional ao fracasso da ceia segundo o ponto de vista feminino, não importando que a comida tenha ficado deliciosa e que todos tenham se divertido.
Aparentemente, vou passar 2006 ouvindo minha mulher reclamar da roupa que estraguei e da ceia que "sabotei". Ah, e também vou ter de agüentar meu amigo Paulo contando para todo mundo a rapidez com que me jogo ao chão quando tenho um revólver apontado para a minha cabeça, no litoral, às 20h de um dia 31 de dezembro, durante uma caça ao gás.
Minha roupa de Réveillon, Karem, Thomas e Thiago voltaram pretos da praia. Eu sigo branco.
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